Neste artigo, o assunto é entre família. Em entrevista exclusiva à ImLog, os primos Gustavo Cavalheiro e Richard Stopassolli comentam as diferenças e semelhanças entre a malha rodoviária brasileira e norte-americana.
Enquanto dirigia seu caminhão para mais uma entrega nos Estados Unidos, Gustavo Cavalheiro, ou simplesmente Guto, explicava como a paixão pela estrada estava na família: “meu pai, tios, primos são caminhoneiros e desde criança, eu não podia ver um caminhão que queria entrar.”
A carreira no país começou em uma fazenda americana transportando gado e leite, mas após alguns anos formado em agronomia, soube que queria seguir os passos do pai.
Desde então, Guto não deixou mais a estrada e embora já tenha tido uma frota própria, atualmente trabalha como motorista de caminhão autônomo em Minneapolis.
No Brasil, há alguns milhares de quilômetros, Richard Stopassolli, primo de Guto compartilha da mesma paixão por logística.
Richard faz parte da comunidade ImLog e é fundador da LogStopassolli Transportes, empresa especializada em last mile e que atende Shopee, Mercado Livre e mais recentemente, Amazon.
Os dois já trabalharam juntos nos Estados Unidos e em entrevista exclusiva a ImLog, compartilharam suas experiências ao longo dos anos, traçando um paralelo do transporte rodoviário brasileiro e norte-americano. Confira a seguir!
1. Comodidade
Segundo os primos, a qualidade das estradas americanas é o ponto a destacar. Além de garantirem maior conforto na hora de dirigir, melhoram a performance do caminhão e isso não é à toa.
A malha rodoviária americana é a maior do mundo – são 63,690,567 quilômetros, sendo 63% pavimentada e 37% não pavimentada. Já o Brasil possui 1.720.700 quilômetros de estradas e rodovias, no entanto apenas 213.500 quilômetros são pavimentados, o equivalente a 12,4%.
Além da qualidade das rodovias, a fabricação dos caminhões também impacta no desempenho.
Desde 2005, o Brasil segue o padrão europeu de produção, que consiste na produção de cabines frontais, posicionadas sobre o motor. Nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, os caminhões convencionais são “bicudos”, com capôs na frente da cabine (que também são maiores).
A legislação brasileira também limita o comprimento do veículo de para-choque a para-choque, diferente dos Estados Unidos, onde leis que limitavam o tamanho foram revogadas.
Outro ponto de disparidade diz respeito a aerodinâmica. Na maioria das rodovias brasileiras, a velocidade máxima de um caminhão é de 90 km por hora. Nos EUA, algumas estradas permitem que caminhões circulem a 85 milhas por hora, ou cerca de 137 km/h.
Segundo Guto, o caminhão que dirige faz uma média de 8.3 milhas por galão, o equivalente a 3.9 km por litro, números excelentes considerando sua experiência.
A título de comparação, fizemos um paralelo entre o caminhão mais vendido nos EUA e o mais vendido no Brasil para elucidar as diferenças de autonomia de cada veículo.
Nacionalmente, o caminhão mais vendido é o modelo FH/540 – que faz 1.6 km por litro. Já nos EUA, um dos mais vendidos é o Peterbilt 579, esse faz 4.5 km por litro (ambos diesel). Vale a pena destacar que a autonomia difere de acordo com modelo, peso da carga, etc.
Além de maior conforto e desempenho, a cada 70/80 km há os postos de descanso, lugar onde os motoristas podem comer, descansar e reabastecer.
2. Remuneração
Nos Estados Unidos, um caminhoneiro pode chegar a receber até de US$ 12 mil (quase R$ 65 mil na conversão direta) por mês, já no Brasil, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNTA), o salário médio é de R$ 4 mil mensais, o equivalente a R$ 16,70 por hora.
Um levantamento da Bureau of Labor Statistics, apurou que em 2021 o pagamento médio dos motoristas americanos foi de US$ 48.310/anual e US$ 23,23 por hora.
No entanto, na maioria dos casos, a remuneração dos motoristas americanos não é feita anualmente ou por hora, como é comum em outras profissões por lá. Quando contratados por empresas, são pagos com base em centavos por milha. Desse modo, o pagamento médio por milha fica entre US$ 0,50 e 0,60 centavos, o que dá um salário semanal entre S$ 1.250 a US$ 1.500 (cerca de US$ 4.030 mensais).
Quando o motorista é autônomo, como é o caso de Guto, acaba tendo um poder de negociação maior, o que pode aumentar ou diminuir o pagamento de acordo com essa média.
3. Fiscalização
Enquanto a fiscalização americana é mais robusta – com aplicação de multa e registros de violações que diminuem possíveis irregularidades – no Brasil ainda faltam inspeções mais regulares – tanto nas estradas quanto nos caminhões.
Para elucidar a precarização da fiscalização brasileira, um levantamento inédito feito pelo SOS Estradas na CEAGESP – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, identificou que mais de 50% dos caminhões estavam irregulares e não poderiam circular. Os dados foram coletados em outubro de 2022.
A alta fiscalização norte-americana, que conta com câmera térmica para inspeção e balanças portáteis em pleno funcionamento, acontece de maneira regular e impacta até na conservação dos caminhões.
Segundo Guto, mesmo os mais antigos funcionam perfeitamente devido à manutenção prévia constante a fim de evitar multas. Um caminhoneiro que estava com a carga acima do peso, por exemplo, foi multado em US$ 15.470 – o equivalente a R$ 77.189,11. em conversão direta.
Brasil x EUA: pontos negativos e positivos
Após dirigir anos pelo Brasil e Estados Unidos, tanto Guto quanto Richard destacam os pontos positivos e negativos de cada lugar, de acordo com as experiências que tiveram.
Pensando nos EUA, os pontos positivos são as estradas, o conforto dos caminhões e a remuneração, já que a área recebe maiores incentivos do governo para crescer.
Do ponto de vista negativo, o custo para contratar e manter uma transportadora é muito alto, o que diminui o empreendedorismo: “ou tem um ou tem mil caminhões, dois não vale a pena”, conclui Guto.
Em solo nacional, os pontos positivos ficam com as pessoas (equipe e motoristas) e o grande potencial de desenvolvimento do setor. Parte tributária, instabilidade do preço dos combustíveis e as seguranças dos motoristas são pontos que poderiam ser melhorados no Brasil segundo os entrevistados.
Uma coisa é certa, dirigindo aqui ou no exterior, Guto e Richard provam que a paixão pela estrada é capaz de conectar gerações e independente do país escolhido, buscar maneiras de contribuir para o crescimento do setor é essencial.
Saiba Mais
Richard Stopassolli faz parte de uma comunidade logística que não para de crescer. Se você também deseja fazer networking, compartilhar seus aprendizados e fazer novos negócios, conheça a Imersão Executiva da ImLog. Além de fazer parte de uma comunidade com mais de 300 executivos, têm acesso às estratégias, processos e tecnologias da Nova Logística que irão impulsionar o seu negócio.
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Amanda Moura é formada em Ciências Sociais e do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e se dedica a estudar comportamento, consumo e tendências.
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