Depois de ondas letais de calor e incêndios florestais, o impacto do setor aéreo no aquecimento global deixou de ser teórico. De acordo com a Bloomberg, para atingir a meta de neutralidade de carbono, a indústria da aviação está prestes a entregar uma conta alta aos passageiros.
Depois de superar a pandemia de Covid-19, o setor de aviação precisa enfrentar outro grande desafio: a descarbonização. Porém, neutralizar as emissões de carbono de uma frota mundial que queima cerca de 100 bilhões de galões de querosene não é tarefa fácil – muito menos barata.
De acordo com a McKinsey, serão necessários US$ 5 trilhões para atingir a meta da aviação de neutralidade de carbono até 2050 – investidos principalmente na produção sustentável de combustível e na geração de energia renovável.
Quem paga a conta?
Anualmente, cerca de 25.000 aviões comerciais transportam 4 bilhões de pessoas e a cada dia que passa, a limpeza de carbono parece mais distante e cara, tanto para empresas quanto para passageiros.
Enquanto a indústria da aviação expandiu sem considerar suas emissões durante 70 anos, os passageiros se acostumaram com a conectividade cada vez maior, além de passagens mais baratas.
A IATA (Entidade Internacional das Empresas Aéreas), grupo que representa cerca de 300 companhias aéreas, estima que chegar a zero líquido até 2050 exigirá investimentos anuais próximos a US$ 180 bilhões. Mesmo que as transportadoras paguem apenas 65% a 75% do total, pode ser economicamente inviável.
Em meio a pressão de governos e ativistas, a indústria parece ter encontrado a única solução possível por enquanto: aumentar o preço das passagens.Para os consumidores, que já não encontravam preços atrativos desde o fim da pandemia, a solução das empresas de aviação torna a tarefa de economizar ainda mais difícil.
Para termos ideia, de acordo com dados do Relatório Ambiental da Organização Internacional de Aviação Civil , as medidas de sustentabilidade tendem a adicionar até US$ 73 ao custo de um assento só de ida em um voo de longa distância de Singapura a Dubai ou Nova York a Paris. As estimativas variam, mas os custos são significativos.
Na União Europeia, os regulamentos que entram em vigor devem aumentar os preços das passagens quase que imediatamente. A nova regra exigirá que as companhias aéreas abasteçam seus aviões com uma mistura de combustível de aviação sustentável de 2% até 2025, aumentando para 6% até 2030 e atingindo 70% até 2050.
Em contrapartida, o público apresenta indícios de que não está pronto para assumir essa responsabilidade financeira, já que apenas 1% a 3% dos passageiros se inscrevem para programas voluntários para compensar as emissões.
A alta dos preços é mesmo necessária para a descarbonização?
Por enquanto, sim. Mesmo com uma coordenação inédita entre fabricantes, refinarias de combustível, aeroportos e companhias aéreas para a descarbonização, as opções são limitadas.
Os jatos comerciais entregues hoje ainda podem estar voando em 2050, enquanto novos projetos movidos a baterias ou hidrogênio levarão anos, senão décadas, para se materializar.
Nesse cenário, a melhor opção é continuar abastecendo aviões convencionais com combustíveis menos poluentes que não exijam mais perfuração para extrair petróleo. Mesmo assim, exigirá um esforço monumental para manter um sistema de produção de combustível alternativo quase inexistente hoje.
Há outra opção? Perspectivas futuras
Embora as viagens aéreas internacionais sejam apenas uma das muitas maneiras pelas quais o planeta está aquecendo, a sua participação na produção de CO2 deve aumentar drasticamente à medida que outros segmentos descarbonizam – para cerca de 22% até 2050, de cerca de 2% hoje se as emissões não forem cortadas rapidamente.
Quase todas as compras de aeronaves agora são feitas como um compromisso com a redução de carbono.Apesar de ajudarem na redução, as aeronaves elétricas não terão autonomia para voos mais longos. A ICAO (sigla em inglês para Organização da Aviação Civil Internacional) não espera que as aeronaves movidas a hidrogênio tenham um impacto significativo nas emissões antes de 2050.
Em 2022, o lobby da indústria teve bons resultados nos EUA com a Lei de Redução da Inflação, que fornecerá subsídios de até US$ 1,75 por galão para a produção de SAF (sigla em inglês para combustível de aviação sustentável), que resultará em uma produção anual de 3 bilhões de galões até 2030.
Custos mais altos podem forçar algumas companhias aéreas a evitar os destinos mais distantes do mundo. A Austrália, por exemplo, corre o risco de ser “excluída da rede global de aviação assim que as estratégias de redução de emissões e precificação do carbono começarem a entrar em vigor”, de acordo com a associação de aeroportos do país.
Embora os passageiros sejam o grande foco da reportagem, é fácil fazer um paralelo com a logística, já que o transporte é uma das etapas mais críticas da cadeia, sendo responsável por grande parte das emissões de gases poluentes como o CO2.
A adoção de práticas ESG na logística, chamada também de logística verde, pode trazer diversos benefícios para as empresas, incluindo a redução de custos, melhoria na eficiência operacional, vantagem competitiva e melhoria na imagem da empresa.
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Amanda Moura é formada em Ciências Sociais e do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e se dedica a estudar comportamento, consumo e tendências.
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