A Zara é uma rede multinacional privada de varejo de roupas com foco em fast fashion, sendo a maior empresa do grupo Inditex. Mas como tudo começou?
Aos 14 anos, Amancio Ortega começou a trabalhar no setor de moda e vestuário, área na qual ele trabalharia pelos próximos 10 anos. Nesse tempo, Ortega fez três descobertas que iriam mudar a logística desse setor:
- As mulheres enxergavam as roupas como uma forma de demonstrar status social;
- Estavam menos interessadas em qualidade e utilidade, e mais na variedade e design das peças;
- As lojas costumam adicionar novo estoque a cada 2 ou 3 meses, mas os consumidores queriam comprar roupas em menos tempo.
A partir desses insights, Ortega entendeu que havia uma demanda não atendida. Assim, em 1980, desenvolveu o modelo de negócios da Zara. A empresa revolucionou a indústria da moda e criou o “fast fashion”, com mudanças radicais na cadeia de suprimentos.
Atualmente, a empresa coleciona números expressivos. Com mais de 1900 lojas em todo o mundo, recebe mais de 4 bilhões de visitas anuais no site. Em 2023, atingiu um valor de mercado acima de 100 bilhões de euros (US$ 107 bilhões), segundo dados da Bloomberg.
Neste artigo, você irá descobrir a estratégia logística que ajudou a Zara a revolucionar toda uma indústria.
A Zara foi o resultado de aprendizado contínuo e inovação
Quando Ortega abriu a primeira loja Zara, ele já tinha 22 anos de experiência no setor, e sua esposa, Rosalia Mera, também trabalhava há cerca de 20 anos na área. Assim, a primeira loja da Zara foi construída baseada em insights e lições de outros negócios, reunindo ideias reformuladas acerca de produto, distribuição e estratégia.
Essas foram algumas características que a tornaram um empreendimento único na época:
- Estava localizada próximo à fábrica, o que tornava a entrega dos produtos otimizada;
- Ficava no coração comercial da cidade, acessando um público mais abastado financeiramente;
- Ortega entendia as necessidades dos consumidores e soube impulsionar experiência do cliente;
- A vitrine era atraente, o que melhorou o posicionamento da marca e o processo de vendas da loja.
Apesar dessas características terem contribuído para o sucesso do empreendimento, o grande diferencial da marca foi a decisão de fazer da cadeia de suprimentos seu maior aliado.
O conceito de fast fashion e a construção de diferencial competitivo
No universo do varejo de moda, a Zara se destaca como um ícone do “fast fashion”. Mas o que isso realmente significa e por que ela foi pioneira?
Como o nome já revela, a essência do conceito “fast fashion” é a velocidade. A capacidade que uma marca tem de identificar, interpretar e rapidamente transformar tendências das semanas de moda em peças acessíveis para os consumidores.
A abordagem inovadora da Zara começou justamente por sua produção ágil, até então, pouco explorada por outras empresas do segmento. Enquanto muitas marcas seguiam um ciclo de produção tradicional, a Zara começou a operar em ciclos de produção mais curtos.
A rápida resposta às tendências foi outra característica fundamental. A empresa não apenas segue as tendências mas as antecipa, monitorando constantemente as preferências dos consumidores.
Por dentro da estratégia de supply chain da Zara
A Zara construiu uma verdadeira máquina que redefiniu os padrões da indústria da moda, mas quais foram os componentes da abordagem inovadora?
Ao integrar verticalmente cada elo da cadeia (da produção ao produto final), a empresa reduziu custos e acelerou o processo de produção – o que a diferenciou das concorrentes.
A seguir, listamos 5 elementos que foram cruciais para o sucesso da estratégia de supply chain da gigante da fast fashion. Confira:
#1 – Eficiência logística
Desde o começo, a empresa percebeu a importância de ter um sistema de produção e distribuição ágil. Na busca pela máxima eficiência e redução do tempo de rotação de estoque, estabeleceu que o tempo médio desde o início da produção até a disponibilização do produto fosse de duas semanas.
Essa abordagem inovadora foi uma ruptura no padrão da indústria, onde muitas empresas de varejo de roupas levavam em média de 4 a 8 semanas para colocar um produto nas prateleiras. Essa decisão criou a base para a estratégia logística da Zara.
#2 – Descentralização e especialização
Centros logísticos específicos e especializados reforçam a estratégia eficiente da Zara. Cada centro de distribuição é responsável por determinadas regiões e lojas, o que otimiza a distribuição.
Além disso, esse sistema possibilita que cada centro de distribuição se adapte rapidamente às demandas e características locais. Assim, garante que os produtos estejam alinhados com as preferências regionais.
#3 – Integração vertical
O modelo de negócios verticalmente integrado é um pilar fundamental de sua estratégia de supply chain. Ao gerenciar design, produção, envio, exibição, promoção, vendas e feedback, a empresa detém muito controle e poder decisão, dependendo minimamente de terceiros.
Além de facilitar a comunicação entre os vários ciclos do produto, esse modelo oferece flexibilidade, redução de custos de estoque e maior velocidade na entrega.
#4 – Fabricação Just-in-Time
A Zara incorpora a fabricação just-in-time em sua cadeia de suprimentos, produzindo pequenos lotes de roupas que respondem rapidamente às tendências e demandas do consumidor.
Esse modelo de fabricação produz itens exatamente no momento em que são necessários, eliminando a necessidade de grandes estoques.
Com design ágil, produção rápida e entrega eficiente, a empresa consegue repor os produtos no prazo estabelecido de duas semanas. Essa prática acaba reduzindo custos de estoque, agilizando a produção e otimizando o uso de recursos.
#5 – Gerenciamento dinâmico de estoque
A empresa utiliza dados em tempo real para manter sua produção relevante e atual. Utilizando sistemas de coleta de dados automatizados, acompanha as transações de vendas, monitora os níveis de estoque e captura dados sobre as preferências dos clientes.
Depois que os dados são analisados, nota-se padrões de compra, comportamento do cliente, sazonalidade e desempenho de produtos específicos. Essa abordagem não apenas minimiza o risco de desperdício de estoque, como também contribui para uma lucratividade sustentável.
O que podemos aprender com a Zara?
Inteligência na hora de definir processos foi fundamental para que a Zara despontasse na indústria do varejo. Mas para perpetuar seu modelo de negócios, precisou focar em conhecer profundamente o cliente e estabelecer prioridades.
Confira alguns insights aplicáveis diretamente da Zara para o seu negócio.
#1 – Foque nas necessidades do consumidor
A abordagem customer centric foi essencial para o sucesso da companhia, que desde o começo trabalhou para entregar moda mais acessível e rápida. Esse conceito refletiu em todas as estratégias, do design de produto ao atendimento ao cliente, e garantiu maior capilaridade à Zara.
#2 – Aprenda e evolua
Antes de abrirem a Zara, seus fundadores entenderam o que funcionava e o que podia melhorar no varejo, criando uma proposta de valor única. A loja que liderou o fast fashion surgiu como resultado de uma aprendizagem contínua, que guiou o negócio rumo à inovação.
#3 – Crie processos que sustentem a prioridade do negócio
Para a Zara, uma logística eficiente era (e ainda é), a maior prioridade. Na hora de implementar novos processos, seja estratégico e assertivo, entendendo o que irá sustentar sua proposta de valor a médio e longo prazo.
#4 – Harmonia entre estratégias de supply chain e negócios
A Zara destaca que a sincronia entre as estratégias de supply chain e os objetivos de negócios é essencial. Desde a primeira loja, a empresa teve os menores tempos de rotação de estoque do setor. Isso impulsionou o desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus métodos logísticos.
Ou seja, tudo moldou-se em volta da sua cadeia de suprimentos, afinal, seu maior diferencial competitivo dependia de processos rápidos e alinhados. A estratégia de negócios e supply chain são complementares, e quando existe harmonia, impulsionam a empresa para a liderança em seu setor.
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Amanda Moura é formada em Ciências Sociais e do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e se dedica a estudar comportamento, consumo e tendências.
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