A startup colombiana Rappi realizou sua maior aquisição desde a fundação, em 2015, comprando a empresa brasileira Box Delivery. Embora os valores da transação não tenham sido divulgados, a Rappi pretende unificar a operação dos entregadores das duas empresas para atender melhor a demanda de restaurantes no Brasil.
Segundo a Rappi, isso se tornou possível após o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) restringir acordos de exclusividade do iFood com esses estabelecimentos, em fevereiro.
O acordo, anunciado na segunda-feira (10), envolve o pagamento de parte em dinheiro e parte em ações, e resulta na entrada da Aliansce Sonae, investidora da Box Delivery, como sócia minoritária da Rappi. No entanto, o negócio ainda está sujeito à aprovação do Cade.
Uma das maiores do setor de entregas no Brasil
De acordo com Sebastian Mejia, cofundador e presidente da Rappi, a aquisição da Box Delivery provavelmente fará da empresa uma das maiores do segmento de entregas no Brasil.
Em entrevista à Bloomberg Línea, Mejia não revelou os números do novo tamanho da Rappi no país, mas afirmou que ainda há oportunidades para continuar crescendo e justificou a aposta no mercado brasileiro.
Mejia explicou que essa é a maior aquisição já realizada pela Rappi e que representa uma exceção, e não uma nova estratégia de crescimento inorgânico, já que fusões e aquisições não fazem parte do DNA da empresa.
De acordo com o PitchBook, a Rappi adquiriu participações em empresas como Payit, Riogrande e Avocado, além de fazer uma joint venture com o Banorte em um acordo de US$ 15 milhões, em junho de 2020, e participar de um investimento na série A de US$ 24 milhões na fintech Slope, em abril de 2022.
150 mil entregadores em 250 cidades
A Box Delivery é uma startup de entregas last mile, fundada em 2016. É responsável pelo transporte de refeições e mercadorias até a casa do consumidor, contando com cerca de 150 mil entregadores cadastrados em 250 cidades brasileiras.
Com a aquisição pela Rappi, os cerca de 450 funcionários da Box Delivery passarão a se somar aos aproximadamente 10,4 mil funcionários da empresa colombiana. A startup realiza cerca de 1,7 milhão de entregas por mês e teve faturamento aproximado de R$ 200 milhões no ano passado.
Segundo Felipe Criniti, fundador da Box Delivery, o acordo representa um próximo passo para manter a operação e buscar crescimento depois que a startup não conseguiu captar sua Série B em um momento em que o mercado se fechou para investimentos de empresas em estágio mais avançado.
Embora a Rappi opere em um modelo de atendimento direto ao consumidor e também tenha sua remuneração vinda em parte das taxas dos estabelecimentos, a Box tem como clientes as empresas, tanto de e-commerce como de restaurantes e lanchonetes.
Sua plataforma possui integrações com aplicativos de captura de pedido, como o Rappi, além do concorrente iFood, e outros pontos de venda, como a Quiq, plataforma que une redes como Outback e McDonald’s.
No ano passado, a startup gastou R$ 35 milhões para adquirir a Vuxx, um marketplace de transporte de cargas de peso médio.
Interessante tanto estratégica quanto financeiramente
A Aliansce Sonae, que recentemente se fundiu à brMalls, adquiriu uma participação minoritária na Rappi, mas não revelou o valor do investimento. O diretor de digital e omnichannel da Aliansce, Renato Floh, afirmou que a transação foi interessante tanto do ponto de vista estratégico quanto financeiro.
Ele também disse que o investimento na Box Delivery, realizado em junho de 2021, possibilitou à startup ampliar sua capacidade operacional para entregas de mercadorias nas regiões próximas aos shoppings no mesmo dia. Isso aumentou o número de entregas de 400 mil para 1,7 milhão por mês e elevou o faturamento em 222%, chegando a cerca de R$ 200 milhões em 2022.
A Box Delivery também ajudou a implementar hubs logísticos em 20 shoppings da Aliansce para fornecer estrutura logística aos varejistas por meio de parcerias para entregas mais rápidas e com menor custo por causa do volume.
A Aliansce mantém seu vínculo com o concorrente iFood e não espera nenhuma obrigação de exclusividade com a Rappi.
Aproveitando a oportunidade
O fundador da Box Delivery explicou que a empresa já havia alcançado um patamar no qual a captação de recursos estava dificultada pelo fechamento do mercado para valores de cheque maiores.
Embora estivessem esperando por uma nova janela, Criniti afirmou que aproveitaram a oportunidade de conversas com a Rappi, iniciadas no segundo semestre do ano passado, para avançar.
Embora a Box Delivery já tivesse atingido um ponto de equilíbrio financeiro e possuísse capital suficiente para manter suas operações, o fundador acreditou que seria um ciclo interessante se juntar à Rappi, da qual se tornaria executivo.
Segundo ele, a Box Delivery necessita de mais capital e fluxo de caixa para continuar crescendo na mesma proporção que vinha crescendo desde 2020. Durante a pandemia, a startup expandiu suas operações de 12 para 100 cidades e se tornou fundamental para a sobrevivência de muitos restaurantes por meio do delivery.
O fundador afirmou que ainda é cedo para falar sobre as sinergias entre as empresas e que será necessário entender as estruturas antes de pensar em um plano futuro de integração.
Valuation pre-money de US$ 5,25 bilhões
A Rappi arrecadou US$ 108,6 milhões em uma rodada da Série F em setembro de 2022, com CrossWork, Opera Ventures e Atman Capital Partners como os principais investidores. Isso levou a empresa a um valuation pre-money de US$ 5,25 bilhões.
A Atman Capital Partners, criada pelo cofundador da ONEVC, vendeu sua participação na empresa para um comprador não identificado. Anteriormente, a FJ Labs também vendeu sua participação na empresa.
Além disso, a startup conta com o apoio de importantes investidores de venture capital, como SoftBank, T.Rowe Price, Sequoia Capital, Tiger Global e Andreessen Horowitz.
Com informações do Bloomberg Línea
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