Cofundador da ImLog, atual Diretor Sênior de Operações Logísticas do MercadoLivre e duas vezes premiado como Profissional de Logística do Ano pelo E-Commerce Brasil – em 2015 e em 2020 –, Luiz Augusto Vergueiro tem muito a dizer quando o assunto é logística, gestão, relacionamento com pessoas e inovação. Com 44 anos, 25 deles dedicados à logística, sua experiência passa por grandes empresas e uma intensa vida acadêmica, como estudante e professor.
Vergueiro atuou na Ambev, Unilever, Kibon, Infracommerce, só para citar algumas das grandes; é Diretor de Logística da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e professor em um MBA da USP/Esalq – além dos cargos já citados no Meli e na Imlog. Acerca de sua vida acadêmica, é graduado em Engenharia de Produção Mecânica pela Escola de Engenharia Mauá, em Business Administration and Management pela Fundação Getúlio e Vargas e conta ainda com uma especialização em Administração e Negócios pela Universidade de Stanford.
Na perspectiva pessoal, Luiz é uma pessoa de fácil trato e carismático. Casado e pai de duas felinas – como ele mesmo diz – é um esportista apaixonado: já participou de diversas maratonas envolvendo horas ou dias de corrida, ciclismo e nado, inclusive o popular Ironman, além de curtir outros esportes diariamente. Com uma rotina pesada, diz dormir pouco, mas descansar rápido: “Quando desligo, desligo de vez, cai o disjuntor literal. Sou o amigo que às vezes dorme na mesa ou num sofá no cantinho da sala”.
Essa combinação de vasta bagagem profissional harmonizada a um perfil de convivência leve, conduziu Vergueiro a, naturalmente, influenciar pessoas, o que explica o forte engajamento de seus mais de 125 seguidores no LinkedIn. Na conversa abaixo, falamos sobre esporte, as mudanças do mercado de logística ao longo das últimas décadas, capacidade de inovação, entre outros temas. Confira abaixo!
Mudar é necessário para acompanhar a inovação
EC: E quais são as próximas tendências em logística? Você falou que falta carro e a gente chegou a conversar sobre a questão de “reaproveitar o espaço dos caminhões”, sobre uma otimização desses espaços. Isso já está acontecendo, é só uma percepção sua de mercado?
LAV: Assim, eu olho isso como uma tendência para o futuro. Hoje, a disputa do prazo pro atendimento do cliente ainda é um fator decisório da venda. Eu vejo muito claramente que no futuro a gente vai ter empresas trabalhando de uma maneira mais colaborativa, mesmo que sejam concorrentes, porque no final das contas, se a gente chega no mesmo prazo, no mesmo lugar, não faz sentido você mandar dois carros a 80% de ocupação. É melhor você mandar um carro a 100% todo dia.
Vai ser a forma que as empresas vão encontrar para poder equilibrar a conta de custo de frete. Principalmente para regiões mais distantes, de menor densidade. Talvez na Faria Lima, dentro de São Paulo, no Rio de Janeiro, os carros vão cheios, se você tem escala. Mas para regiões mais distantes, sei lá, interior da Bahia… não é toda cidade que você tem um carro cheio pra mandar todos os dias. Mas talvez se você juntar os grandes players dali, você fecha um carro inteiro. Se esse negócio do atendimento deixar de ser o maior ou um decisor importante para a conversão e compra do consumidor, essa otimização de custo vem para o bem das empresas e do consumidor.
EC: Aproveitando esse gancho de qualidade de atendimento e alta demanda de entrega. Você comentou que existem dias, períodos, em que a entrega aumenta muito. O que você faz nessa hora? Como você faz para lidar com uma demanda altíssima em um curto espaço de tempo?
LAV: Tem que priorizar alguma coisa. Normalmente, o que sofre são os produtos de menor rentabilidade, então, entre entregar um celular, uma televisão ou um produto de moda, eu vou priorizar um e deixar o produto de supermercado para trás. Esses vão ser os produtos de valor agregado mais baixo. Tem uma vantagem, especificamente nas nossas operações, de estarem centralizadas no eixo de São Paulo. Desse modo, conseguimos fazer muita movimentação de pessoas entre operações. Aí eu tenho algumas operações que estão mais controladas, outras que estão menos, então cabe a mim remanejar essa mão de obra para uma operação que está explodindo. Esse é um pouco do caminho.
Agora, nem sempre é a alta demanda que ocasiona isso. Muitas vezes, atravessamos problemas pontuais, de horas ou dias, mas seus efeitos perduram por um mês. Por exemplo, a parada de algumas rodovias importantes lá no começo de novembro de 2022, isso foi bater na Black Friday. E, óbvio, se o caminhão não desce, ele não volta, ele não faz a viagem. Outro exemplos são as chuvas de Santa Catarina, que trava as rodovias. Isso gera um efeito cascata e um alongamento da duração desse problema. É pontual, só que isso gera um backlog e você só vai conseguir matar ele em 2, 3, 4 semanas.
De uma maneira geral, acho que estamos vivendo um momento bem duro para a logística.. Não vejo ninguém falando “putz, meu volume veio bom e eu tô nadando de braçada porque eu consegui executar meu plano”. Tudo que a gente planejou teve que ser ajustado por conta dessas intempéries que estão longe da nossa influência.
Se o atendimento deixar de ser o maior ou um decisor importante para a conversão e compra do consumidor, essa otimização de custo vem para o bem.
EC: E quais são as próximas tendências em logística? Você falou que falta carro e a gente chegou a conversar sobre a questão de “reaproveitar o espaço dos caminhões”, sobre uma otimização desses espaços. Isso já está acontecendo, é só uma percepção sua de mercado?
LAV: Assim, eu olho isso como uma tendência para o futuro. Hoje, a disputa do prazo pro atendimento do cliente ainda é um fator decisório da venda. Eu vejo muito claramente que no futuro a gente vai ter empresas trabalhando de uma maneira mais colaborativa, mesmo que sejam concorrentes, porque no final das contas, se a gente chega no mesmo prazo, no mesmo lugar, não faz sentido você mandar dois carros a 80% de ocupação. É melhor você mandar um carro a 100% todo dia.
Vai ser a forma que as empresas vão encontrar para poder equilibrar a conta de custo de frete. Principalmente para regiões mais distantes, de menor densidade. Talvez na Faria Lima, dentro de São Paulo, no Rio de Janeiro, os carros vão cheios, se você tem escala. Mas para regiões mais distantes, sei lá, interior da Bahia… não é toda cidade que você tem um carro cheio pra mandar todos os dias. Mas talvez se você juntar os grandes players dali, você fecha um carro inteiro. Se esse negócio do atendimento deixar de ser o maior ou um decisor importante para a conversão e compra do consumidor, essa otimização de custo vem para o bem das empresas e do consumidor.
EC: Aproveitando esse gancho de qualidade de atendimento e alta demanda de entrega. Você comentou que existem dias, períodos, em que a entrega aumenta muito. O que você faz nessa hora? Como você faz para lidar com uma demanda altíssima em um curto espaço de tempo?
LAV: Tem que priorizar alguma coisa. Normalmente, o que sofre são os produtos de menor rentabilidade, então, entre entregar um celular, uma televisão ou um produto de moda, eu vou priorizar um e deixar o produto de supermercado para trás. Esses vão ser os produtos de valor agregado mais baixo. Tem uma vantagem, especificamente nas nossas operações, de estarem centralizadas no eixo de São Paulo. Desse modo, conseguimos fazer muita movimentação de pessoas entre operações. Aí eu tenho algumas operações que estão mais controladas, outras que estão menos, então cabe a mim remanejar essa mão de obra para uma operação que está explodindo. Esse é um pouco do caminho.
Agora, nem sempre é a alta demanda que ocasiona isso. Muitas vezes, atravessamos problemas pontuais, de horas ou dias, mas seus efeitos perduram por um mês. Por exemplo, a parada de algumas rodovias importantes lá no começo de novembro de 2022, isso foi bater na Black Friday. E, óbvio, se o caminhão não desce, ele não volta, ele não faz a viagem. Outro exemplos são as chuvas de Santa Catarina, que trava as rodovias. Isso gera um efeito cascata e um alongamento da duração desse problema. É pontual, só que isso gera um backlog e você só vai conseguir matar ele em 2, 3, 4 semanas.
De uma maneira geral, acho que estamos vivendo um momento bem duro para a logística.. Não vejo ninguém falando “putz, meu volume veio bom e eu tô nadando de braçada porque eu consegui executar meu plano”. Tudo que a gente planejou teve que ser ajustado por conta dessas intempéries que estão longe da nossa influência.
Onde há problemas, há oportunidades
EC: Você trouxe muitos gargalos da porta pra fora: densidade, os problemas de chuva, distância, etc. Mas e da porta pra dentro? Quais são os gargalos?
LAV: Para mim, um dos pontos mais importantes são pessoas capacitadas. Hoje, com a velocidade que o e-commerce cresceu na pandemia, e vai continuar crescendo, você precisa alimentar esse pipeline com pessoas com conhecimento para poder fazer a roda girar, fazer o desenvolvimento desse negócio acontecer.
O e-commerce é uma problemática diferente do que é a problemática do supply chain convencional, da indústria, da distribuição B2B. O processo de venda é virtual, só que você tem a parte física. Acho que as empresas de e-commerce, por terem esse viés muito “do virtual” e da tecnologia, incluíram a logística nesse barco, e isso é ótimo. Acontece que muitos profissionais da logística estão desconectados do digital, esse é o ponto.
Então, formar pessoas com esse viés de conexão da tecnologia com a operação logística, análise de dados, da execução, tudo agrupado, é um gargalo que a gente tem. Formar pessoas com a visão da logística com viés tecnológico e analítico, de dados, esse eu acho que é um gap que a gente já tem no mercado. As pessoas não estão prontas, temos que trazer e formar internamente para poder desenvolver essa turma. Esse é um dos propósitos do ImLog. Queremos formar pessoas preparadas para lidar com essa nova tendência
E fora logística?
EC: Vamos falar um pouco do Luiz além do trabalho. Você contou que participou de um Ironman. Qual edição foi? Você também participa de outras maratonas?
LAV: Foram duas vezes o circuito completo, em 2016 e em 2019, e sete vezes o meio circuito. E sim, já participei de três maratonas de mais de 40km em locais diferentes: Nova Iorque, Chicago e Porto Alegre. Também participei de uma corrida de montanha em alta altitude de 100km em três dias, em El Origen. 2800m era a base, nós batemos 4200m. E três vezes participei do L’Etape du Tour de France, uma corrida de ciclismo de quatro a cinco horas na montanha, duas vezes em Cunha e uma vez em Campos do Jordão.
EC: Qual é a sua rotina de esporte diária?
LAV: Faço esporte todos os dias pela manhã. Antes eu começava às 5h, agora às 6h, mas não tenho novos planos de provas. Comecei a jogar tênis também. E, lógico, pego onda.
Acordo, se for algo longo planejado eu como, se não vou em jejum. Café da manhã reforçado, aí o resto é rotina do trabalho, que começa às 9h. Tento parar de trabalhar entre 19-20h. Tenho acompanhamento de médico de esporte, fisioterapeuta e nutricionista, além de um educador físico que passa meus treinos de corrida e funcionais
EC: Além do esporte, você tem alguma prática para cuidar da saúde mental?
LAV: Ando tentando fazer yoga, mas tá faltando hora no dia pra isso. Mas tenho gostado muito dos exercícios de flexibilidade e respiração.
EC: Tem alguma curiosidade legal sua que gostaria de compartilhar?
LAV: Eu sou uma pessoa que descanso rápido, durmo pouco. Mas quando desligo, desligo de vez, cai o disjuntor literal. Sou o amigo que às vezes dorme na mesa ou num sofá no cantinho da sala.
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