Qual é a perspectiva para M&As em logística?

Mesmo com mercado financeiro apreensivo e cenário incerto, existem possibilidades interessantes para fusões e aquisições no setor, mas com um detalhe: a régua está bem mais alta e os valores mais racionais.

O ano de 2023 vem sendo marcado por dificuldades macroeconômicas significativas em todo o mundo. No Brasil, a taxa de juros vem operando acima de dois dígitos, especificamente em 13,75% até o fechamento desta matéria. Nos Estados Unidos e na Europa, ainda que com números absolutos menores, os juros também vêm batendo recordes. O Banco Central Europeu, por exemplo, vem anunciando aumentos recorrentes e, no momento, as taxas estão em seu maior patamar desde novembro de 2008. 

Há de se contextualizar ainda os recentes incidentes com bancos, com destaque para a emblemática falência do Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça e um dos 30 maiores do mundo, que foi “amortizada” pela aquisição por seu concorrente, o UBS, em uma transação avaliada em US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões), cujo valor pode ser considerado insignificante dada a proporção da instituição. Vale pontuar ainda uma outra falência, a do Silicon Valley Bank, o banco das startups. Em conjunto, os acontecimentos trouxeram uma sensação intensa de instabilidade no sistema financeiro global como um todo. 

Por fim, mas não menos importante, está o escândalo contábil protagonizado pelas Americanas, que impacta o setor de varejo como um todo, mas que se expande para toda a cadeia – o que envolve a logística – e até para o mercado nacional de forma geral, tendo em vista a proporção e a relevância dos executivos envolvidos, entre eles Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos e influentes do mundo. 

É evidente que, neste cenário, os ânimos ficam aflorados e há uma fuga de capital para ativos mais conservadores, o que tende a esfriar grandes movimentos de mercado, inclusive os M&As em logística.

Momento de cautela

De acordo com Pierre Schurmann, CEO da Nuvini e founder da Bossanova Investimentos, o momento atual é de cautela do ponto de vista dos investidores. “Se por um lado o e-commerce cresce, o varejo deve ter um impacto importante do ponto de vista de investimentos devido à alta dos juros e a falta de liquidez causada pelo problema com a Americanas”, afirma.

 

Por outro lado, o executivo acredita que players como o Mercado Livre devem continuar investindo na verticalização e integração cada vez maior do seu ecossistema. “Não sei o quanto isso é favorável para logtechs. Mas, de maneira geral, acredito que o Brasil ainda tem muito espaço para crescer em logística. E, invariavelmente, para que este crescimento seja sustentável e com retorno financeiro interessante, a tecnologia terá um peso importante neste crescimento. Ainda tem muito espaço para quem quer crescer maximizando a tecnologia como um diferencial competitivo”, pontua.

Guilherme Juliani

“Quem estiver atento ao caixa e for capaz de fazer sobrar recursos, terá oportunidades de realizar boas aquisições de empresas com time fantástico, com filosofias novas e agressividade comercial melhor”

Guilherme Juliani
CEO do Grupo MOVE3

“Nunca desperdice uma boa crise”

É na esteira da célebre frase do já falecido ex-CEO da Intel Corporation, Andrew Grove “Andy”, que vem Guilherme Juliani, CEO do Grupo MOVE3.  “Já concretizamos duas aquisições em 2023 e planejamos mais  algumas. O desafio é encontrar negócios que consigam gerar os quase 20% de juros sobre o capital investido nessas aquisições. Mesmo assim, conseguimos formalizar a aquisição da Carriers e da Rede 1 minuto após as devidas aprovações do CADE e temos algumas conversas bem adiantadas, com expectativas de anunciar pelo menos mais quatro aquisições ainda em este ano”, diz.

O executivo concorda que o cenário é complexo, mas pondera que alguns fatores e contextos podem fomentar M&As nas logtechs.

“Toda crise gera oportunidades para quem está com o caixa da empresa bem controlado. No entanto, não há  mais espaço para apresentações e promessas milagrosas, agora as startups precisam provar que seu modelo de negócio pode ser rentável sim, e de preferência, com resultados do passado e não do futuro”.

Guilherme acrescenta ainda que as empresas como um todo evoluíram muito tecnologicamente nos últimos 2 anos e que a régua e os valuations agora são outros. “No passado recente, vimos diversas aquisições que faziam sentido pelo aspecto tecnológico, mas zero sentido no aspecto econômico. Agora, as empresas ‘aprenderam’ a gerar as tecnologias dentro de casa de modo que acredito que as aquisições deverão ter mais sentido do ponto de vista econômico do que tecnológico. Considerando ainda a crise macroeconômica, é certo que quem estiver atento ao caixa e for capaz de fazer sobrar recursos, terá oportunidades de realizar boas aquisições de empresas com time fantástico, com filosofias novas e agressividade comercial melhor. Acredito, inclusive, que o mercado de last mile no Brasil está no ponto ótimo para consolidação e fusões. Não são muitas opções à mesa, mas as poucas que estão com a vida financeira saudável serão os direcionadores dessa tendências”,  finaliza.

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