Imagine que você tem duas entregas pra fazer. Então, coloca as caixas do carro, joga no waze ou no google maps e pau na máquina. Até aqui, molezinha. Agora, pense se você tiver 100 ou 200 encomendas para entregar tudo no mesmo dia, em diversas regiões de São Paulo, em que ordem você faz?
Qual ordenamento gera menos custo e mais efetividade da entrega? Concorda que se estiver chovendo, algumas regiões são mais difíceis que outras? Qual é a densidade dessas entregas, uma perto da outra ou tudo afastado? Para aquela rota, qual o melhor veículo de transporte? Coloque ainda nessa equação a organização interna do veículo, afinal, entregas a serem realizadas primeiro precisam estar mais acessíveis para retirada. E por fim, a pergunta que não quer calar: quem é o maluco que vai fazer toda essa conta?
A roteirização é um dos temas mais quentes na logística atualmente, porque é responsável por fazer essa conta.
“Não se trata apenas de encontrar o trajeto mais curto entre os pontos A e B, mas sim de atender exigências específicas da frota, das vias e dos clientes, para aproveitar melhor os recursos e diminuir custos”, explica Caio Reina, fundador da RoutEasy, que oferece soluções de otimização para clientes como Shopee, Mercado Livre e Magalu.
É dele, inclusive, o apontamento de que há uma relação entre a tecnologia de roteirização com a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin. “Existem diversas escolas para resolver problemas complexos, como o da roteirização. Uma delas é o algoritmo genético, que é amparada na teoria do evolucionismo. A hipótese é que, para resolver um problema, você cria várias soluções, as mais simples, nem sempre as melhores, mas visando uma diversidade de soluções. A partir daí, combina-se essas soluções dentro de uma mecânica de cruzamento, como acontece na teoria de Darwin, que diz que o melhor indivíduo não é o mais rápido ou o mais forte, mas o que se adapta às mudanças do meio”, afirma Reina.
É o caso da girafa, que após uma série de cruzamentos, chegou no pescoço alongado para poder se alimentar. E ela sobrevive porque foi a mais eficiente.
“Não se trata apenas de encontrar o trajeto mais curto entre os pontos A e B, mas sim de atender exigências específicas da frota, das vias e dos clientes, para aproveitar melhor os recursos e diminuir custos”
Caio Reina
Fundador da RoutEasy
Artigo de primeira necessidade
Em um mercado onde as entregas crescem exponencialmente a cada ano, naturalmente, a roteirização se tornou não apenas um diferencial estratégico, mas uma tecnologia que busca trazer viabilidade para o negócio. Na prática, a roteirização pode ser realizada em âmbito urbano ou rodoviário, utiliza mapas digitais com distâncias e tempos precisos, considerando as características dos pontos de parada, produtos e veículos, a depender do planejamento.
Há ainda uma integração entre mobilidade e roteirização, com monitoramento de entrega em real time, notificação ao cliente, calibragem automática do planejamento e indicadores de performance (KPIs). Segundo José Peres, Gerente Comercial Routing Systems, empresa focada em roteirização e tracking há cerca de 30 anos, é possível dividir as dores do mercado em três blocos: redução de custos, melhoria de processos e nível de serviço.
“No primeiro ponto, há uma grande busca vinda das empresas. É possível identificar muitos custos relacionados ao last mile, como combustível, manutenção de veículos e contratação de motoristas, por exemplo. Já sobre os processos, trata-se principalmente de tempo. Certas rotas podem levar muito mais tempo do que é considerado sustentável para o negócio. Aspectos relacionados, como restrições de tempo para o recebimento de determinados itens, janelas de transporte para o armazenamento de produtos sensíveis, entre outros.”, afirma o especialista.
Peres acrescenta ainda que o nível de serviço é influenciado diretamente pela melhora nos outros dois fatores, mas pode ser a razão principal para tudo.
“Oferecer entregas com excelência é um diferencial fundamental para manter a competitividade no mercado, e cada vez mais os clientes querem rapidez, agilidade e, acima de tudo, qualidade”, pontua.
Quando tudo está estabilizado, é possível ativar ainda a roteirização automática, que se baseia em parâmetros, regras específicas daquele negócio e disponibilidade de recursos. Além disso, na Routing, há uma série de funcionalidades disponíveis em diferentes planos, de acordo com a solução desejada por cada empresa. Por exemplo: comunicação com o motorista; vale pedágio; tratamento de ocorrências; acesso a torres de controle; canhoto digital/código de barras; e relatórios e dashboards.
“O roteirizador que aplicamos usa diferentes algoritmos, fechados, cada um com seu propósito, e eles podem ser parametrizados pelo usuário seguindo suas necessidades. Porém, é importante notar que muitas restrições — como tirar determinadas regiões, aplicar um filtro X ou Y, etc — acaba reduzindo a velocidade do programa em alguns casos. Nós temos ferramentas que conseguem fazer trabalhos maiores em poucos minutos, ou mesmo continuar processando outras possibilidades de rota depois da primeira opção. Mas o que vale a pena para uma empresa pode não valer para outra, visto que cada solução tem sua disponibilidade e seu preço”, explica Lucas Alencar, sócio-diretor da Routing System.
À procura da rota perfeita
De acordo com Reina, da RoutEasy, a roteirização é de natureza combinatorial, o que deixa o problema muito mais complexo e exponencial. “Se você tem um algoritmo que, por exemplo, leva um minuto para apresentar o trajeto com 100 pontos de parada, caso você suba para 200 pontos, ele não vai levar dois minutos e sim mais tempo, por conta da exponencialidade, por haver muito mais opções de combinações entre esses 200 pontos. Para resolver essa questão, existem diversos estudos e algoritmos desenvolvidos com esse propósito. É preciso dar limitações e trabalhar essa complexidade de maneiras novas, o que vai variar de acordo com a empresa. E a tendência é que toda essa complexidade fique cada vez maior em um cenário de same day delivery.”
Caio ressalta que a personalização da solução é fundamental, principalmente quando se trata de diferenciações de mercado, como B2B ou B2C. “No meio B2B geralmente há muitas regras que devem ser levadas em consideração, como janela de horário, veículos específicos, entre outras. No caso do B2C, são menos regras ou mais flexíveis, mas, em compensação, o volume é maior, especialmente quando se trata de e-commerce. Enfim, cada situação exige um projeto”.
“Até segmentos iguais podem precisar de algumas diferenciações. Por exemplo, no transporte de valores, algumas empresas trabalham com modelos de rotas fixas e outras com rotas dinâmicas, que são aquelas montadas na hora, você nunca sabe qual é. É o mesmo tipo de trabalho que elas fazem, mas cada uma tem sua abordagem por conta de seus processos internos”, completa Peres.
Em resumo, não há uma receita pronta ou melhor definição para roteirização, o que há é uma imensa necessidade de adaptação para diferentes circunstâncias e ambientes, cada vez mais complexos. Ou, em analogia à linha darwiniana, o algoritmo deve “encontrar” um jeito de viabilizar a equação das entregas dos clientes, tal qual a girafa achou seu jeito para se alimentar.
Faça parte da próxima turma
Hotel Grand Mercure, São Paulo – Vila Olímpia
06 e 07 de maio – das 08 as 20h*
*horários sujeiros a mudanças