Como Coordenador de Suprimentos e Logística do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), Luiz Carlos Roque Junior tem um dos trabalhos mais estratégicos do seu time: organizar os diversos processos de movimentação e armazenamento de produtos — que são sensíveis, na maioria dos casos, visto a natureza do IBMP.
Trata-se de uma das principais instituições nacionais no cenário de desenvolvimento tecnológico na saúde há mais de 10 anos, bem como uma das grandes responsáveis pela distribuição em massa de testes de COVID-19 em farmácias e no Sistema Único de Saúde (SUS), além do atendimento no diagnóstico de outras doenças.
Até 2021, 30 milhões de testes rápidos já haviam sido entregues para o SUS pelo instituto.
Seja no sul ou no nordeste do país, a logística se mostrou um dos desafios mais importantes para o IBMP ao longo dos anos, principalmente no período mais agudo da pandemia.
“A pandemia exigiu altos volumes, que ocupam muito espaço e acabam trazendo algumas limitações”, Roque explica. “Houve mais investimentos em infraestrutura para abarcar a contingência, inclusive do governo, mas também houve dificuldades em diversas etapas. Inclusive no aéreo, na importação de matéria-prima, porque havia pouca disponibilidade de rotas e de aeronaves”. Os bens estrangeiros utilizados pelo instituto vêm de pelo menos três continentes: Europa, Ásia e América do Norte. O que não vem de fora vem de fábrica própria, única na América Latina.
O desembaraço aduaneiro é a próxima situação complexa a ser enfrentada quando os insumos chegam no Brasil. “Algumas cargas demoram entre 48 e 72 horas para liberação. É um tempo precioso perdido durante esse processo”, o especialista afirma.
“O PCR precisa ser transportado e armazenado a temperaturas entre -15Cº a -35Cº. Para isso, usa-se embalagens especiais, de camada tripla, com gelo seco, papelão e isopor”
Luiz Carlos Roque Junior
Coordenador de Suprimentos e Logística do Instituto de Biologia Molecular do Paraná
Com os produtos desenvolvidos, há uma série de diretrizes a serem seguidas para o transporte seguro. “Cada produto tem uma especificação. O PCR, por exemplo, precisa ser transportado e armazenado a temperaturas entre -15Cº a -35Cº. Para isso, usa-se embalagens especiais, de camada tripla, com gelo seco, papelão e isopor. Só de conseguir essas embalagens já é uma outra jornada inteira”, diz o especialista.
De acordo com Roque, não são muitas as empresas que fornecem as embalagens necessárias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Assim como todos os players relacionados às atividades do IBMP, essas empresas devem ser regulamentadas pela Anvisa. No caso de transporte aéreo, as embalagens também precisam ser homologadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Mais do que isso, encontrar gelo seco é uma das maiores dificuldades: “No Brasil inteiro, a produção de gelo seco é concentrada em duas ou três organizações. Se uma das principais delas, White Martins, parasse de funcionar, metade do país pararia junto. Diversos produtos de saúde e outros que requerem o armazenamento em temperaturas negativas não poderiam mais ser transportados”, Roque comenta.
Resposta ao Covid-19
Apesar dos desafios, o instituto reagiu de maneira rápida e preparada quando a pandemia de Covid-19 despontou.
“Claro que tivemos alguns percalços no caminho, para estruturar uma operação grande em tão pouco tempo, mas de forma geral estávamos preparados por conta de um projeto que já vinha sendo desenvolvido desde 2015, chamado ‘Maturidade em Cadeias de Suprimentos’. É um modelo teórico que foi aplicado em várias dimensões logísticas”, Roque pontua.
“Ao longo dos anos foram feitos vários investimentos em processos, capacitação, análise de riscos, entre outros. Então, quando o Covid estourou, nós já tínhamos uma rede de parceiros e uma resposta rápida desenhada”.
Em menos de 15 dias, antes mesmo da importação de materiais ser completada, as áreas de armazenagem necessárias para a operação já haviam sido disponibilizadas. Entre fornecedores e demais parceiros do instituto, todos os processos estavam integrados e funcionando em harmonia.
A partir daí, além da produção em massa de autotestes e exames PCR — e além, também, de manter suas operações normais —, o instituto construiu uma central que acabaria por realizar 4 milhões de testes. No Paraná, a cada 10 testes realizados, 6 eram feitos lá, o que tornou o estado o que mais testou em relação à sua população.
“Algumas cargas demoram entre 48 e 72 horas para liberação. É um tempo precioso perdido durante esse processo”
Luiz Carlos Roque Junior
Coordenador de Suprimentos e Logística do Instituto de Biologia Molecular do Paraná
Daí para frente, os números do IBMP só cresceram e alterações foram sendo implementadas. Eles foram de 100 para 800 funcionários, entre diretos e indiretos, em apenas quatro meses; a área logística foi de 70/m2 para 5 mil/m2; o período de trabalho foi de turnos comerciais para 24 horas, 7 dias por semana; o que era transporte dedicado se tornou parceria com transportadora.
Ainda assim, era conhecido que o crescimento exacerbado não teria como prosseguir indefinidamente. Quando os projetos foram finalizados e a pandemia estava sob controle, houve uma desmobilização: “Desmontamos laboratórios, armazéns, e retornamos para a operação cotidiana. Não adianta manter uma operação gigante sem o mesmo volume”, Roque explica.
“Mas, de qualquer modo, não retornamos para o mesmo patamar pré-pandemia. Nosso volume ainda é de quatro a cinco vezes maior do que era anteriormente”.
Imersão Executiva
Quando Luiz Carlos se inscreveu para participar da sua primeira Imersão Logística, ele procurava saber o que o mercado estava fazendo que o IBMP talvez ainda não estivesse. Ao final do encontro, ele teve ainda mais insights do que o esperado.
“Temos uma dificuldade em fazer benchmarking, porque poucas empresas fazem o que a gente faz”, o profissional afirma. “Acabamos descobrindo muitas possibilidades de inovações que podem fazer sentido para nossa posição, mesmo vindo de setores completamente diferentes”.
Assuntos como experiência do consumidor e digitalização foram bastante discutidos, mas alguns pontos mais específicos chamaram a atenção do coordenador, como, por exemplo, a malha tributária. Trata-se de uma realocação de Centros de Distribuição e/ou pontos de entrega para aprimorar o balanço contábil, seguindo as legislações vigentes em cada estado, já que são diferentes entre si.
Outros exemplos incluem as torres de controle para acesso a informações da entrega em tempo real, e redução do tempo de emissão de notas fiscais. Todas essas e outras inovações podem ser aplicadas para reduzir custos e melhorar a produtividade em diversos aspectos da operação.
“Descobrimos muito quando temos esses contatos, e é no que a Imersão mais nos ajudou: networking. Encontrar fornecedores, indicações de profissionais, ou mesmo levar novas ideias para os parceiros atuais, tudo isso só é possível quando você fala com as pessoas certas, quando se troca experiências”, ressalta Roque.
“É olhar o outro mercado e pensar ‘estão avançados, estão fazendo’. Tem um caminho longo, mas alguém já passou por ele.”
Luiz Carlos Roque Junior
Coordenador de Suprimentos e Logística do Instituto de Biologia Molecular do Paraná
Próximos passos
Os objetivos do IBMP em termos logísticos, agora, inclui potencializar o que vem dando certo e buscar caminhos para melhorar ainda mais. Eles já são referência em seu setor, especialmente após o sucesso com as operações relacionadas à pandemia, mas o mercado é dinâmico e muda rapidamente. Saber disso — como Luiz Carlos mostra que sabe — é o segredo para se manter relevante.
Outra meta, que vem sendo um desafio atualmente, é a sustentabilidade nos processos. “Trazer o ESG [Governança ambiental, social e corporativa] para os variados aspectos do sistema é complicado. Temos várias soluções nesse sentido, mas só a gente não adianta, os parceiros têm que vir junto. É assim que se faz a diferença realmente”, destaca o especialista.
O IBMP aderiu ao pacto global da ONU, Estratégia 2030, e também foi o vice-campeão na categoria ESG da 9ª Edição Prêmio BBM Projeto de Logística 2022.
Há novos desafios a serem vencidos pelo instituto agora que as coisas voltaram ao normal, ou o mais perto disso quanto possível. Suas vitórias nos últimos anos são louváveis, e a busca por constante aprimoramento, ainda mais.
O IBMP mostra um lado da logística que não é encontrado em outros mercados, especialmente no varejo, que costuma ser a cabeça das discussões na área.
Não é uma empresa de grande escala, com uso de tecnologias de ponta para dar conta dos volumes altíssimos de produtos. É uma instituição de saúde, cujo objetivo maior é salvar vidas. Logística é parte vital dessa estrutura; e é um ganho para o Brasil todo que organizações como essa estejam se preocupando em melhorar seus processos e aprimorar suas entregas.
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