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Brasil x China: comparando dois gigantes do e-commerce

Os últimos 20 anos viram o início, o crescimento e a rápida transformação do comércio eletrônico no mundo, impulsionados, pelo menos em parte, pelas decisões de negócios e ações dos principais players do mercado: Alibaba, Pinduoduo, Amazon, Mercado Livre…

Embora o setor tenha (em sua maioria) atingido um estágio relativamente maduro, ainda é possível perceber mudanças contínuas à medida que as principais companhias se adaptam, experimentam e inovam em um cenário de competição acirrada.

Em 2022, por exemplo, as vendas do e-commerce global no varejo foram estimadas em mais de US$ 5,7 trilhões, com potencial de atingir novos patamares nos próximos anos.

Assim, apesar de realidades muito diferentes – a receita do comércio eletrônico chinês atingiu US$ 1.3 trilhão em 2022, enquanto o e-commerce brasileiro de varejo gerou cerca de de US$ 38 bilhões – esses dois países são semelhantes na medida em que superam importantes mercados em suas regiões.

Afinal, assim como a China lidera o ranking de e-commerce mundial e se tornou o primeiro país em que o varejo online supera o físico, com mais de 1 bilhão de compradores digitais, o Brasil é referência e líder na América Latina e Caribe, contribuindo com 11% para seu PIB e concentrando cerca de 128 milhões de compradores (mais de 70% da população adulta) – cada um desses gastando cerca de US$ 981 em compras online por ano, de acordo com pesquisa da Americas Market Intelligence (AMI).

Dito isso, é crucial entender como se comportam dois gigantes dessa indústria, bem como suas particularidades, principais semelhanças e diferenças para entender o que podemos aprender com eles.

A relação entre Brasil x China

O Brasil e a China têm uma relação estreita no campo do e-commerce, que se reflete tanto no fluxo comercial quanto na cooperação institucional, em decorrência do BRICS (grupo de países formado por cinco grandes economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

No que se refere ao fluxo comercial, o Brasil é um dos principais destinos das exportações chinesas via e-commerce, especialmente de produtos como eletrônicos, moda feminina, casa e jardim, automóveis e motocicletas e esportes e lazer. 

AliExpress, Shopee e Shein, por exemplo, têm em solo brasileiro uma grande demanda e, por isso, estão sempre investindo na região, oferecendo atendimento em português, meios de pagamento locais, entrega rápida e parcerias com varejistas nacionais.

Já a China é um mercado potencial para as exportações brasileiras via e-commerce. Mas, apesar de expressivo, de acordo com levantamento da Infracommerce, o mercado nacional ainda é sub-penetrado quando comparado com o país asiático:

Potencial do e-commerce brasileiro | Fonte: Stats, Statista, MCCNET e Digital Commerce 360

No que se refere à cooperação internacional, o Brasil e a China têm firmado acordos e iniciativas para promover o desenvolvimento comercial entre os dois países. 

Um exemplo é o Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Comércio Eletrônico assinado em 2019 pelos ministérios do comércio dos dois países. Outro exemplo é o projeto “Promote the development and cooperation of SMEs between China and other BRICS countries through e-commerce development”, coordenado pela UNIDO e pelo Ministério do Comércio da China.

Um overview sobre as suas principais plataformas

Os principais players do e-commerce chinês são plataformas nacionais como Alibaba (que inclui AliExpress, Taobao e Tmall), JD.com, Pinduoduo (dona da Temu) e Suning. Essas plataformas oferecem uma grande variedade de produtos, preços competitivos, serviços personalizados e entrega rápida.

Elas também investem em tecnologias como inteligência artificial, realidade aumentada, blockchain e 5G para melhorar a experiência dos consumidores.

Por outro lado, no Brasil, a maior parte do market share fica para plataformas internacionais como Mercado Livre (Argentina), Amazon (EUA), AliExpress (China), Shopee (China). 

O restante é dividido entre as nacionais de maiores renome, como Americanas, Magazine Luiza e Via Varejo (que inclui Casas Bahia e Ponto Frio), que oferecem uma boa diversidade de produtos, facilidade de pagamento, atendimento ao cliente e programas de fidelidade, investindo em logística, marketplace, omnichannel e social commerce para ampliar o alcance dos consumidores.

Além disso, atualmente, a compra online na China chega a abranger uma fatia de 90%, enquanto no Brasil, ela é de apenas 30%. Entre os principais players:

  • O Mercado Livre gerou US$ 5,7 bilhões em receita no Brasil em 2022;
  • enquanto, o Grupo Alibaba registrou uma receita de cerca de aproximadamente US$ 84,9 bilhões em vendas na China.

Vale lembrar que os meios de pagamento são um aspecto importante do e-commerce de ambos os países, pois influenciam na confiança das plataformas e na conveniência dos consumidores. 

Na China, os meios de pagamento mais comuns são os pagamentos móveis, como Alipay e WeChat Pay, que permitem aos consumidores pagar com QR codes ou reconhecimento facial.

Segunda a Statista, mais de meio bilhão de consumidores chineses pagaram com seus telefones em um ponto de venda em 2022 – impulsionando o crescimento do mercado de pagamentos a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 8,8% de 2022 a 2027. Esses métodos são seguros, rápidos e integrados com os marketplaces e as redes sociais. 

No Brasil, por outro lado, de acordo com a Nuvem Shop, os meios de pagamento mais usados são os cartões de crédito e o boleto bancário, que permitem aos consumidores parcelar as compras ou pagar à vista sem precisar de conta bancária. Esses métodos são populares, mas também podem gerar problemas como fraudes, inadimplência e desistência. Outras soluções incluem: cartões de débito, o Pix e as carteiras digitais.

Como fica a logística nesses mercados?

A logística é um dos maiores desafios para esses negócios, devido às dimensões territoriais, à infraestrutura precária e à burocracia alfandegária dos dois países. No entanto, os dois mercados também têm buscado soluções para melhorar a eficiência e a qualidade da entrega dos produtos.

Na China, as plataformas de e-commerce contam com redes próprias ou parceiras de distribuição, que incluem armazéns, centros de processamento, transportadoras e pontos de coleta. 

É comum, também, a utilização de tecnologias como drones, robôs, veículos autônomos e inteligência artificial para otimizar a operação. Além disso, elas oferecem serviços como entrega no mesmo dia, entrega expressa e entrega internacional.

Em 2021, o investimento e financiamento do setor de logística de comércio eletrônico chinês totalizou mais de 53 bilhões de yuans, um aumento de 15,8%. O alto valor de investimento e financiamento se deu, principalmente, pelo crescimento dos empreendimentos impulsionado pela pandemia da COVID-19.

No entanto, os custos logísticos do país representam 14,6% do Produto Interno Bruto. 

No Brasil, as principais plataformas também contam com redes próprias ou parceiras, como os armazéns, centros de fulfillment, transportadoras e lockers.

De igual modo, tecnologias como rastreamento online, geolocalização e integração com marketplaces têm sido utilizadas, bem como serviços de entrega agendada, entrega rápida e entrega cross border.

No entanto, aqui, segundo estudo publicado pelo ILOS, os custos logísticos são um pouco menores e representam 12,2% do PIB. Para os negócios, esses gastos alcançam 7,6% da receita líquida. Mas, sem gestão eficiente, esse percentual pode ficar ainda maior.


Muito além das diferenças culturais, geográficas e econômicas

O e-commerce é um setor dinâmico e competitivo, que exige adaptação constante às mudanças do mercado e às demandas dos consumidores. Por isso, é importante acompanhar as tendências e as oportunidades para se manter “no jogo”.

Como visto, Brasil e China são dois gigantes que movimentam bilhões de dólares todos os anos. Apesar das diferenças existentes, eles também têm muitos pontos em comum, como a busca por produtos variados, baratos e de qualidade, a diversidade de meios de pagamento disponíveis e a necessidade de melhorar a logística.

De acordo com a Mckinsey, certas melhorias como embalagens mais padronizadas, melhor planejamento de rotas, otimização em todos os modos de transporte e rastreamento de produtos devolvidos — podem reduzir os custos logísticos em 30%, sem investimentos significativos em novas tecnologias ou modelos de negócios.

No fim do dia, vejo em cada vez mais organizações que, para se tornar um líder estratégico, é fundamental se manter atualizado com as principais tendências, estratégias, processos e tecnologias do mercado.

Por isso, para quem deseja elevar os resultados do seu negócio (dominando a delivery experience, gestão de times, CX, análise de dados e operação logística), é fundamental estar por dentro do que há de mais relevante na área, como a Imersão Executiva da ImLog, para aprender, de fato, com quem já fez parte dessa transformação na prática.

  • Amanda Moura é formada em Ciências Sociais e do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e se dedica a estudar comportamento, consumo e tendências.

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Tags: Tecnologia

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